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10 de outubro de 2018

Trabalho da Dra. Renata Roxo publicado no Congresso Americano de Dermatologia em 2018

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L-Lisina

A L-Lisina é um dos oito aminoácidos essenciais não produzidos pelo organismo e é preciso a ingestão dietética adequada para que possa desempenhar suas funções biológicas que necessitam do seu uso como por exemplo na síntese de tecidos conjuntivos, como ossos, pele, colágeno e elastina e a síntese de carnitina para conversão de ácidos graxos em energia. A lisina, ácido (S) -2,6 -diaminohexanóico, é um aminoácido básico, altamente solúvel em água e tem um peso molecular de 146,19 daltons. A administração oral é a via preferencial para a sua suplementação. Após a ingestão, é absorvido do lúmen do intestino delgado para os enterócitos via transporte ativo e se move do intestino para o fígado através da circulação portal. Uma vez no fígado, a lisina se junta a outros aminoácidos para facilitar a síntese de proteínas. ¹
A lisina tem uma relação antagônica com o aminoácido arginina, que é necessária para a replicação do Herpes Simples Virus (HSV). ² A lisina compete com a arginina para ser absorvida no intestino, pela sua reabsorção nos túbulos renais e transporte através da membrana plasmática para as células. ³ Aumentar a ingestão total de lisina ou influenciar a razão lisina-arginina é a base para o benefício potencial da lisina no manejo de um surto de HSV. ¹
Em 1978, um estudo multicêntrico observou 45 pacientes com infecções recorrentes por HSV tomando 312-1200mg de lisina diariamente por dois meses a três anos associado a uma dieta restrita de alimentos com alto teor de arginina e revelou redução na recorrência da infecção enquanto os indivíduos estavam em tratamento. Quando a lisina foi descontinuada, as lesões voltaram a ocorrer dentro de 1-4 semanas. 4 Desde então, diversos estudos controlados observaram uma redução significativa no surgimento das lesões herpéticas, assim como seus sintomas e duração com o uso da Lisina. Como o que ocorreu em um estudo duplo-cego, controlado por placebo, onde 41 indivíduos com infecções recorrentes por HSV receberam lisina (500 ou 1.000 mg por dia) ou placebo por 24 semanas e, em seguida, o tratamento alternativo por mais 24 semanas. Todos os participantes do estudo tiveram prescritos uma dieta rica em lisina e baixa arginina. Indivíduos que receberam altas doses de lisina tiveram menos recorrências durante o período de uso de lisina, estatisticamente significante, quando comparados ao grupo placebo. Aqueles que receberam a dose mais baixa de lisina não experimentaram mudanças significativas em comparação ao placebo.5

PITIRÍASE ROSEA E ASSOCIAÇÃO COM O HERPESVÍRUS
A pitiríase rósea (PR) é caracterizada por placas, arredondadas ou ovaladas, eritêmato-pápulo-escamosas, distribuídas no tronco e extremidades e com curso evolutivo tipicamente autolimitado. 6 Foi inicialmente descrita por Camille Melchior Gibert em 1860 e a hipótese infecciosa, possivelmente viral, é considerada por muitos autores a mais plausível. 7,8 Igualmente admissível é a hipótese de causa multifatorial, induzida por antígenos infecciosos ou não infecciosos (drogas), tendo como suporte a susceptibilidade genética e provável auto-imunidade.6, 9 e 10
Em 1997, Drago e colaboradores relataram a detecção de DNA do Herpervirus 7 (HHV-7) no tecido de pacientes com PR. Especificamente, o DNA de HHV-7 foi encontrado em 12 de 12 biópsias de pele frescas, em 12 de 12 preparações de células mononucleares do sangue periférico (PBMC), e em 12 de 12 amostras de soro livre de células isoladas de pacientes com PR. Em contraste, o DNA de HHV-7 foi detectado em amostras de pele, em 44% das PBMC e em nenhum soro de indivíduos saudáveis. Esses pesquisadores também mostraram níveis séricos aumentados de IFN-α em pacientes com PR, indicativos de infecção viral aguda e alterações citopáticas virais observadas na cultura de PBMC . Em resumo, esses dados indicaram que a reativação do HHV-7 estava ocorrendo durante o quadro de PR. 11
Os outros dois estudos relatados sugeriram uma possível associação do HHV-7 em um subconjunto de pacientes com PR. Watanabe et al em 1999 12 detectaram DNA de HHV-7 em 47% das amostras de plasma de pacientes com a PR, enquanto Kosuge et al em 2000 13 encontraram evidências de aumento do anticorpo HHV-7 em alguns dos pacientes estudados. Watanabe et al 14 e Broccolo et al 15 porém, sugeriram que a PR esteja relacionada à reativação de ambos os vírus HHV-7 e Herpesvírus-6 (HHV-6).
Infelizmente, o aciclovir e seus derivados têm pouca atividade antiviral contra o HHV-6 e o HHV-7 16. Foscarnet, ganciclovir e cidofovir têm alguma atividade em altas concentrações, mas todos esses medicamentos são de uso prático limitado, devido à necessidade de administrá-los por via intravenosa ou aos efeitos colaterais potencialmente preocupantes. 11
Diante da relação dos vírus do herpes, em especial o HHV-7 e HHV-6 com a PR e conhecendo a ação da Lisina inibindo a replicação viral, por inibir a absorção da arginina, esse aminoácido essencial pode ser uma opção terapêutica eficaz para essa dermatose tão comum nos consultórios dermatológicos. Mesmo sendo a PR uma patologia de curso autolimitado, as alterações cutâneas assim como seus sintomas levam a uma alteração de qualidade de vida do paciente no curso da doença.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1- Monograph L-Lysine. Alternative Medicine Rev.2007; 12(2): 169-72.
2- Griffith RS, DeLong DC, Nelson JD. Relation of arginine-lysine antagonism to Herpes simplex growth in tissue culture. Chemotherapy 1981;27:209-213
3- Miller CS, Foulke CN. Use of lysine in treating recurrent oral Herpes simplex infections. Gen Dent 1984;32:490-493.
4- Griffith RS, Norins AL, Kagan C. A multicentered study of lysine therapy in Herpes simplex infection. Dermatologica 1978;156:257-267.
5- McCune MA, Perry HO, Muller SA, O’Fallon WM. Treatment of recurrent Herpes simplex infections with L-lysine monohydrochloride. Cutis 1984;34:366-373.
6- Miranda SMB, Delmaestro D, Miranda PB, Filgueira AL, Pontes LFS. Pitiríase Rosea. An Bras Dermatol. 2008;83(5):461-9.
7- Drago F, Ronieri E, Malaguti AF, Losi E, Rebora A. Human herpes-virus 7 in pityriasis rosea. Lancet. 1997;349:1367-8.
8- Drago F, Ronieri E, Malaguti F, Ranieri E, Losi E, Rebora A. Human herpes virus-like particles in pityriasis rosea lesions: an electron microscopy study. J Cutan Pathol. 2002;29:359-61.
9- Chuh AA. A prospective case control study of autoimmune markers in patients with pityriasis rosea. Clin Exp Dermatol. 2003;28:449-50.
10- Miranda SMB, Porto LC, Pontes LF, Filgueira. AL. Correlation between HLA and pityriasis rosea susceptibility in Brazilian blacks. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2006;20:21-6.
11-Blauvelt A. Skin Diseases Associated with Human Herpesvirus 6, 7, and 8 Infection. JID Symposium Proceedings. 2001; VOL. 6, 3: 197-02.
12- Watanabe T, Sugaya M, Nakamura K, Tamaki K: Human herpesvirus 7 and pityriasis rosea. J Invest Dermatol 113:288±289, 1999.
13- Kosuge H, Tanaka-Taya K, Miyoshi H, et al: Epidemiological study of human herpesvirus-6 and human herpesvirus-7 in pityriasis rosea. Br J Dermatol 143:795±798, 2000.
14- Watanabe T, Kawamura T, Jacob SE, Aquilino EA, Orenstein JM Black JB, et al. Pityriasis rosea associated with systemic active infection with both human herpesvirus-7 and human herpesvirus-6. J Invest Dermatol. 2002;119:793-97.
15- Broccolo F, Drago F, Careddu AM, Foglieni C, Turbino L, Cocuzza CE, et al. Additional evidence that pityriasis rosea es associated with reactivation of human herpesvirus-6 and 7. J Invest Dermatol. 2005;124:1234-40.
16- Takahashi K, Suzuki M, Iwata Y, Shigeta S, Yamanishi K, Clercq ED: Selective activity of various nucleoside and nucleotide analogues against human herpesvirus 6 and 7. Antiviral Chem Chemotherapy 8:24±31, 1997

TRABALHO APRESENTANDO NO ANUAL MEETING DA AAD- SAN DIEGO 2018.

O uso de Lisina para tratamento de pitiriase rósea: uma nova opção de tratamento?

Introdução: A pitiríase rosea (PR) é uma doença papuloescamosa benigna comumente observada na prática clínica dermatológica. O herpesvírus humano (HHV) 6 e 7 estão relacionados a patogênese da PR . Recentes estudos demonstraram a detecção tanto do DNA de HHV-7 como do HHV-6 por reação em cadeia da polimerase (PCR) em pele, plasma livre de células, soro livre de células e saliva da maioria dos pacientes com PR. A lisina classificada como um aminoácido essencial tem uma relação antagônica com o aminoácido arginina, que é necessária para a replicação do herpes simples vírus (HSV). Vários estudos confirmaram a eficácia da lisina na dose 500mg duas vezes ao dia na prevenção de surtos de HSV tipo 1 assim como na redução da gravidade dos surtos quando estes ocorressem. Com base nestes estudos relacionando o HHV 6 e 7 com a PR e o conhecido efeito da lisina que previne a replicação viral do HSV , relatamos dois casos de pacientes com resolução importante das lesões cutâneas na PR após utilização de 1 g / dia de Lisina por 15 dias.
Relato de caso 1: Paciente do sexo feminino de 25 anos de idade, com ocorrência de lesões típicas eritematosas papuloescamosas distribuídas no tronco e membros há 3 semanas associadas a prurido discreto. VDRL, FTA – ABS IgM e IgG foram solicitados para excluir o diagnóstico diferencial de sífilis secundária (SS). Foi prescrito exclusivamente a Lisina 500 mg duas vezes por dia durante 15 dias. A paciente foi reavaliada após 20 dias onde apresentou resolução quase completa das lesões cutâneas. Os testes sorológicos para SS foram todos negativos. Foi prescrito hidratante corporal para uso tópico após o banho e orientação de regressar ao ambulatório caso houvesse retorno das lesões, o que não aconteceu. (Imagem 1)
Relato de caso 2: Paciente masculino 26 anos, atendido no ambulatório de dermatologia apresentando quadro de lesões eritematodescamativas arredondadas em membros superiores e em tronco com distribuição centrifuga há 1 mês. Também foram solicitados os exames laboratoriais sorológicos para exclusão da SS. Foi prescrito a Lisina 500 mg duas vezes por dia durante 15 dias associado a hidratante corporal a base de uréia. O paciente foi reavaliado após 21 dias da primeira consulta para exame dos testes sorológicos para SS, todos negativos, e para avaliação do quadro clínico que evidenciou remissão das lesões cutâneas. (Imagem 2)
Discussão: O PR é uma doença da pele caracterizada por inflamação aguda que desaparece espontaneamente sem formação de tecido cicatricial durante um período médio de 4 a 8 semanas podendo se estender por até 14 semanas. Afeta pessoas de todas as idades, mas é mais frequentemente observado na faixa etária de 10 a 35 anos. Em 1997, Drago e colaboradores relataram a detecção do DNA do HHV-7 no tecido de pacientes com PR. O material genético deste vírus foi encontrado em 12 de 12 biópsias de pele e em 12 de 12 células mononucleares de sangue periférico. Recentemente estudos detectaram através de PCR o DNA de HHV-7 e HHV-6 em pele, plasma sem células, soro livre de células e saliva da maioria dos pacientes com PR . A lisina , que é classificada como um aminoácido essencial , é convertida em acetil CoA, um componente crítico no metabolismo de carboidratos e na produção de energia. Tem uma relação antagônica com o aminoácido arginina, que é necessária para a replicação do HSV. Um estudo multicêntrico observou 45 pacientes com infecções recorrentes de HSV, usando 300-1200 mg de lisina diariamente por dois meses a três anos. Alimentos com alto teor de arginina foram restritos. O estudo revelou uma redução dramática na recorrência da infecção pelo herpes vírus enquanto os indivíduos estavam no tratamento. Não existem estudos avaliando a eficácia da lisina na PR. Mas como há relatos na literatura da associação de vírus da família do herpes com a PR os autores deste relato optaram pelo uso da lisina como uma alternativa de tratamento. Apesar de sua prevalência e natureza benigna da PR, ainda há momentos em que este transtorno se apresenta de forma incomum ou com problemas de manejo para o médico dermatologista. Por esta razão, a lisina pode ser uma boa opção de tratamento para PR por poder encurtar o curso das lesões proporcionando o retorno do bem-estar aos pacientes que manifestam esta patologia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- El-Ela MA, Shaarawy E, El-Komy M, Fawzy M, Hay RA1, Hegazy R et al. Is There a Link between Human Herpesvirus Infection and Toll-like Receptors in the Pathogenesis of Pityriasis Rosea? A Case-control Study . Acta Dermatovenerol Croat. 2016; 24(4):282-7.
2- Mahajan K1, Relhan V2, Relhan AK3, Garg VK2. Pityriasis Rosea: An Update on Etiopathogenesis and Management of Difficult Aspects. Indian J Dermatol. 2016 Jul-Aug;61(4):375-84.
3- Miranda SMB, Delmaestro D, Miranda PB, Filgueira AL, Pontes LFS. Pitiríase Rosea. An Bras Dermatol. 2008;83(5):461-9.
4- Monograph L-Lysine. Alternative Medicine Rev.2007; 12(2): 169-72.

Dra. Renata Roxo
CRM- 685585 RJ | RQE
Membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Membro da Academia Americana de Dermatologia.

Dra. Clessya Rocha
CRM-18982 BA | RQE-12458
Membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Prof. auxiliar Dermatologia- Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) Jequié, Bahia.

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